quinta-feira, 22 de agosto de 2019

6 - A ÁGUIA E AS GALINHAS

Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas, embora a águia fosse o rei de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: – Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia. – De fato, disse o camponês, é uma águia, mas eu a criei como galinha. Ela não é mas uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das grandes asas. – Não, retrucou o naturalista, ela é e será sempre uma águia, pois tem um coração de águia e este coração a fará um dia voar ás alturas. – Não, não, insistiu o camponês, ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: – Já que você de fato é uma águia, abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: A águia e as galinhas – Eu lhe disse, ela virou uma galinha! – Não, tornou a insistir o naturalista, ela é uma águia e uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa e sussurrou-lhe: – Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga: – Eu lhe disse…! – Não, respondeu firmemente o naturalista, ela é águia e possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã eu a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo, pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: – Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre si mesma, e começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou… voou… até confundir-se com o azul do firmamento. – Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar. Autoria: Leonardo Boff.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial